Grupo Prima investe em análises sobre Necropolítica do governo brasileiro
Por Cristiane Barbosa,
Equipe da Comunicação/FIC
Em um período de polarização política e situação de crise (econômica, social, ambiental, política) agravada pela pandemia do coronavírus, o Grupo de Pesquisa em Processos Imagéticos (Prima) da FIC/Ufam está investindo na elaboração de dois estudos que serão transformados em artigos científicos.
O líder do grupo, Rafael Hoff, disse que a Necropolítica é o conceito que está sendo trabalhado nos estudos. “O conceito de Necropolítica foi constituído a partir do pensamento de Achile Mbembe, filósofo camaronês, sobre a proposta de biopolítica do também filósofo Michel Foucault”, explicou.
Com foco sobre a constituição da soberania nacional e das estratégias empregadas pelos governos, Mbembe fala que a contemporaneidade é marcada por extremismos que ele denomina estado de exceção e estado de sítio. “Nessas duas situações, o governo passa a governar os cidadãos em prol de uma divisão racial, hoje atualizada para uma divisão por classes sociais, em que alguns são privilegiados com o direito de viver, enquanto outros são “condenados” à morte”, detalhou Hoff.
A pesquisadora e vice-líder do Prima, Camila Leite, que também está participando do desenvolvimento do estudo, explicou que esse direito exercido pelos governos, determinando quem deve viver ou morrer, a partir de categorias determinadas pelos próprios políticos, exige condições especiais como a constituição de um inimigo comum, imaginário e simbólico, contra o qual toda crueldade e emprego da força estatal é justificado. “Porém, aos poucos, o aparelhamento governamental passa a dirigir essa força contra as pessoas governadas, com o objetivo de preservar as relações excepcionais de poder. O corpo dos menos privilegiados paga o preço da manutenção da soberania nacional”, alertou a estudiosa.
O professor Israel Rocha, que também integra essa investigação, disse que os dois estudos abordam as temáticas: “A Necropolítica ambiental de Ricardo Salles na gestão do Ministério do Meio Ambiente” e “A Necropolítica de Jair Messias Bolsonaro na gestão da crise provocada pela pandemia do Covid-19”. “Em ambos os trabalhos, a atenção se volta para a comunicação midiática, a performance política midiatizada e as mídias sociais digitais como fonte de informação”, esclareceu.
O líder do grupo, Rafael Hoff, reforça que o investimento científico está voltado para o registro, reflexão e crítica sobre os processos comunicacionais, seus produtos, com ênfase às imagens. “Esses aspectos compõem o mosaico cultural e informacional desse ecossistema ampliado pelas tecnologias de informação e comunicação no contexto da cultura digital”, enfatizou o pesquisador.
Desafios do grupo na pandemia
Segundo Hoff, o trabalho continuou firme com a equipe por meio de encontros pela internet com os estudantes, promovendo leituras e debates e também estimulando o pessoal a pensar e elaborar projetos de Iniciação Científica em atendimento ao edital do Pibic. “Infelizmente, a adesão aos encontros depende de fatores como conectividade dos estudantes em casa e também da condição de saúde (física e mental) deles e dos familiares, pois isso tudo impacta no rendimento dos debates e no envolvimento com as pautas”, revelou ele.
Sobre o Grupo Prima
O Grupo Prima foi criado em dezembro de 2019, a partir dos objetos de pesquisa e interesses teóricos dos dois líderes professores Camila Leite e Rafael Hoff. Três linhas de pesquisa orientam os trabalhos no grupo: a) Identidades e estéticas imagéticas; b) Processos produtivos e de consumo imagéticos; c) Estudos imagéticos interdisciplinares. Fazem parte dos objetos de estudo as fotografias, os memes, os vídeos, o telejornalismo, as séries, o cinema, as paisagens sonoras, o imaginário, as edições e manipulações imagéticas, as tecnologias para captação e os espaços de circulação das imagens, os modos de ver e os percursos do olhar, entre outras muitas manifestações desse tema tão instigante.
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